Os teus
dedos escorregavam-lhe pelo couro cabeludo e o som da tua voz era o leve
crepitar do toque que tão bem reconheço.
Respondia-te.
O arrepio percorria-me a
espinha e na expressão do seu olhar encontrava-se o meu deleite.
Sei-te bem. Sabes-me melhor. Sou
transparente. E o que não sei, dizem-me os teus olhos quando encontram os meus.
Por isso é do meu ventre que arrancas as sensações quando ela se entrega. São
os meus lábios que prendem o teu beijo. É no meu sono que repousa o teu orgasmo.
Mesmo que as nossas peles não se voltem a tocar, mesmo que os cheiros te
confundam.
Encontramo-nos para lá do tempo, antes
e depois de tudo o que é mortal. Porque o Homem jamais pode separar o que a
Natureza uniu.
Como este mar que se deita comigo na areia, como o luar que irá
suceder o crepúsculo, como a abelha que oscula uma pequena flor.
Tudo acontece de repente, como
numa tempestade. Mas acaso é apenas um nome que se dá ao momento certo. Por
vezes procuramos incessantemente as respostas erradas... e desviantes.
Não vivemos o Amor. O ser-humano
é pequeno demais. Ele é que nos vive. Nada somos nos intervalos senão
matéria-prima de um produto inacabado.
Ouves a minha respiração
palpitante nos sonhos inevitáveis? Chamo-te de volta à tua essência, a mim,
mesmo que momentaneamente. Vens?
Guardo-a para que não te esqueças de quem és.
Está aqui, encostada ao meu peito, presa a um suspiro teu, a uma gota de suor
que se perdeu: uma lágrima pousada sobre o sinal de nascença, à espera de ser
bebida pela ponta dos teus dedos, os mesmos que desenham agora os contornos
sinuosos de outro corpo em êxtase.
photo: You Hold Me Without Touch by MultiCurious
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