Por dentro do ímpeto da caça desenfreada que me move, do quente adocicado do leite que me deste a beber, fui criança à descoberta. De memória em punho gravei na pedra do caminho o singular momento da tua entrega, tão natural e inevitável. No leito improvisado do desejo agarraste-me com a força de um náufrago, como se me pedisses que não mais te largasse. Já sei o que vais dizer: “É o reflexo espontâneo do orgasmo. E sexo é sexo.” Vital e necessário a tanta gente. Mas não foi o que o teu corpo me gritou, não foi esse o som no encaixe. Imperceptível e menos breve, a melodia dos teus sentidos em exercício de relaxamento.
Não recordo o teu cheiro, embora tenha ficado preso a mim vários dias. Dias que se diluíram como o teu gosto na minha boca. No rastro delével do teu cosmos, quis-te outra vez. Estrela cadente de substância secreta. Representaste o papel desnecessário de objecto inconquistável. A luta que impões amplia-te a avidez na vertigem de um auto-controlo excessivo. Pretendes com isso segurar a vontade alheia. Mas a minha escorregou-te, caiu ao chão e partiu-se. O meu querer não perdurou. Não eras casa que eu habitasse. Então, ensaiei a partida. Tu intuíste que a noite de estreia se avizinhava e antecipaste-a.
Não sei se te agradeça ou te guarde, mas apetece-me dizer-te que o nosso reencontro será intenso e o sexo violento, e que no dia seguinte terei a marca dos teus dentes nos meus lábios. Porque nós repetimos sempre os trilhos que se cruzam. E tu és a presa cabal da tua própria natureza predadora.
Terás ainda o leite, fonte de vida, espesso e revigorante para me dar a beber, ou apenas o sangue cálido que se verte ainda dessa chaga aberta?
30 comentários:
Aguardo relato desse reencontro.
Beijos...
Dhyana,
O relato é o da memória, numa noite posterior de humidades excessivas e suores transparentes.
Intenso! Muito intenso!
Sim, Joana. O suficiente para subsistir.
é incrível como uma carta de desamor pode ser tão envolvente... já tinha saudades de te ler.
até breve.
As ausências prolongadas causam sensações dessas, Berta.
Até breve.
Poderosa.
Gostei da tua escrita!
As incertezas cruas a jazer na existência do ser humano...
UHAU! o teu blog é super subterrâneo, adorei.
jinhos
Ruela, já tinhas gostado antes. ;o)
Obrigada.
João, é exactamente o oposto.
Certezas crepusculares que jorram de uma nascente inesgotável. :)
Passarinha,
Subterrâneo? lolol Como os túneis do sistema de metro de "A Bela e o Monstro"? Agrada-me a idéia de ser ambos, por acaso. :)
Hmm irei seguir o teu concelho então, mas moras em Inglaterra?
Gostei bastante do teu blog :)
Já vivi, Isis.
Boa viagem.
agradece...
e guarda.
abraço de cumplicidade.
e partilha.
e.
@-,-'-
Do blogue(apresentação visual)...agora a apresentação das palavras...;)
Palavras curtas e aquém daquilo que me ofereceste. Uma imagem que me encheu de lágrimas e bonomia.
Bem hajas!
Um beijo.
CG
nana,
Sim, agradeço e guardo.
-te.
x
Ruela,
Interligação perfeita. ;)
Gasolina,
Um silêncio cheio de gratidão e reconhecimento.
Bom fim-de-semana.
sensações (re)abertas
à esquina de nada
adjacendo
...
... nao obteve resposta, nem pelo movel ou por e-mail. "por vezes tecem-se expectativas que nao tem razao de ser", admitiu. Mas, por outro lado, quem sabe se, neste tempo de descontroladas variaçoes temperamentais, as temperaturas altas nao tinham obrigado a prolongar as ferias?...
se por uma vez
a osmose
das cores
.
leite e sangue.
sangue e leite.
Um beijo de bom fim de semana.
un dress,
Divagações a que a alma apela...
...para esquecer...
legível,
Há lago de redondo e cristalino nas tuas palavras.
Há prolongamentos de ausências necessários.
~pi,
uma vez
um nada
um vazio de fenómenos ópticos
.
o degustar da despedida
.
leite e sangue
um até já e um adeus
gasolina,
um sorriso aberto.
vim só deixar-te
um
(outro)
beijo.
um abraço de.
porque.
nana,
obrigada
por isso.
obrigada por.
looks like
you're sensing
what's to come.
because.
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