07 agosto 2007

ceifa






Azeitonas. Consta que as negras são as mais doces. Nunca gostei de azeitonas. Até provar o teu olhar. Até fazer do teu corpo, pomar de oliveiras, a minha cama, o meu abrigo. Voltei a ele como um Outono, vezes sem conta. Vesti-o de um verde seco e pendurei-lhe os teus olhos. Vastidão cintilante que tanto me encanta. Sem me dar conta, preparei-o para a apanha, para ser fustigado e degustado por outrem, num Novembro pleno de chuva. Agora corre-me azeite nas veias. Gorduroso, espesso, acre. Colesterol maligno, que me entope vasos sanguíneos e pensamento. Já não gosto de azeitonas. Têm um travo amargo e são prejudiciais à saúde. A melancolia exacerbada também. Já não gosto de azeitonas. Mesmo que minta quando o digo.


photo eyes by envidiosa




9 comentários:

nana disse...

na mouche.
mesmo e tanto.

....


gosto MESMO deste teu espaço de palavras e imagens e.
hei-de voltar sempre.

@-,-'-


(ainda sobre londres:http://www.youtube.com/watch?v=1_G4BlTn82Y )

lamia disse...

Nana... espero bem que sim! Foi bom "tropeçar" em ti. :)

Já tinha visualizado o vídeo no teu blog. Está demais! É como se ambas as cidades se encontrassem ligadas por laços de sangue.
O que queres que te leve de Lisboa na minha próxima visita a Londres? ;)

Dhyana disse...

Hummmm..., cá para mim ainda gostas.
Gostei da forma como escreveste o texto.
Beijos...

lamia disse...

Obrigada mais uma vez, Dhyana. E eu gosto dessa tua análise perspicaz. ;)

Francesca Lambruscco disse...

Gostas. Amas.

E é talvez isso que te dói mais.


Por vezes, encontramo-nos no meio de um mar imenso sem bóia e sem tronco de árvore que nos salve.

Por vezes, o Amor pode parecer desilusão na sua superfície mas no interior será sempre alimento e razão para se soltar um sorriso.

Bonito texto.

:)

lamia disse...

Boa noite, Francesca. Muito obrigada pela apreciação. Plagiando o Oswaldo Montenegro:

"Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço
e que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
mas a outra metade é um vulcão.
(...)
E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade... também."

aquilária disse...

lamia,
obrigada por teres deixado na minha ínsua um rasto que me permitiu chegar aqui. gosto da tua escrita, bem como da estética do teu blog.
*
pois, estes coágulos podem ser fatais, se atingirem irremediavelmente o coração e o cérebro...
*
quanto ao comentário que deixaste no meu blog: sim, as ruínas simbolizam a memória.

fiquei-me pelos teus três posts mais recentes mas voltarei logo à noite, para ler mais de ti.
um abraço

lamia disse...

Aquilária, apreciei deveras o comentário e a visita. Volta quando quiseres. A porta fica entreaberta. Se for esta noite, agradeço apenas que tragas uma lanterna, ou uma velinha acesa. Não te assustes com as sombras.
:)

aquilária disse...

lamia, quem há tanto tempo vive com as sombras, não as receia. mas obrigada pelo aviso... :)

entretanto, ontem voltei,antes de cair a noite. gostei, gostei mesmo, sobretudo do que descreves nas linhas e escreves nas entrelinhas daquele teu "entardecer".

abraço