25 fevereiro 2008

hoje

A minha visão nem sempre é tão nítida como a de um girassol. Nem tão perfeita como os contornos do teu corpo. Os meus olhos, como eu, são inacabados. São olhos que se ofuscam perante a luminosidade que irradias em momentos de fusão.
O meu toque não é tão leve como um sopro. Nem tão pesado que não se levante e paire sobre a essência do caminho a percorrer, ainda. Braços em grua, que procuram erguer sobre a tua pele a permanência.
O meu paladar não é tão apurado como o de um enólogo, nem tão ténue como o de uma gripe. Distingue, no entanto, todos os teus sabores, mesmo na ausência deles.
O meu olfacto... bem, esse, é o de um animal irracional, incontrolável e certeiro. Absorção inevitável de tudo o que se cola à pele. Cheiras-me a Casa. Aquela onde te encontras, meu único e indubitável porto de abrigo.
A minha audição é o mais falível de todos os sentidos. Porque nem sempre te ouço com os ouvidos de dentro. Falho. Escorrego. Caio. Magoo-me. Fujo. Não deixes de insistir, nem desistas de mim, por isso. Falta-me o amor a mim própria para que não me deixe enganar estupidamente perante as provas que me colocas.

Hoje, meu amor, hoje, precisava de ti por um mero instante de partilha, de empatia rara, de entendimento mútuo. Porque (re)nasço. Porque me faz sentido este querer(-te) para além de tudo e de todos.

Sou o teu berço e o teu túmulo. A vida para lá de tudo. A morte a cada instante de dor. Tudo o que sempre quiseste e tudo o que sempre odiaste. O mundo que é o teu. Eu.

Tu... a minha Vida. Mesmo quando choro. Como hoje.





4 comentários:

Gasolina disse...

Palavras rasgadas.
Mas veras e belas.
O tudo no todo, a vida dentro de querer viver.

Um beijo.

PS.: Eu só sorrio pelo teu renascer.

K disse...

A vida faz sempre chorar...

SL disse...

Quando se ama, não se chora pela morte mas sim pela vida... é na condição de estarmos vivos que o problema da morte do outro se encerra.

Gostei, triste, mas eu sempre tenho tendência para gostar de coisas deprimentes.

mystique disse...

Quando choras as palavras desbotam os sentidos que desenhaste pela vida fora. Vives o momento como se o acumular das sementes que ficaram por germinar te vendasse os olhos e o pensamento.

Nem tudo o que nos foge é por nossa culpa.

Nem tudo o que o vento leva nos pertence.

Nem tudo se apaga com o tempo.

Hoje é sempre um novo começo.