23 agosto 2007

abalada



O amor deveria ser uma panela de sopa sem fundo, servida às conchas e ao desbarato. A fome seria menor.

O amor deveria ser uma balança de pratos equilibrados. Mas não escolhe nem peso, nem medida, nem cor, nem tempo, nem voz. Escolhe-nos e já está.

E partimos para o mundo com a cabeça em jardim florido. E partimo-nos a nós na viagem.

O amor é felino. Faz o que quer.

O amor é o que levaste de mim, na prova desleal dos teus sentidos.

Dás-me a vestir farrapos como trajes carnavalescos. E eu mergulho nas águas turvas dos canais de uma Veneza mais a norte e mais a longe.

Escrevo-me em postal, com gestos de giz em ardósia de palavras quebradas a meio. E guardo-me num envelope sem selo.



22 comentários:

Francesca Lambruscco disse...

um barco à deriva de fundos vermelhos. Tantas vezes se perdeu enquanto em horas mortas se engasgava com as lágrimas secas inertes brotadas de seus olhos.

O amor que nos carris de um comboio azul e branco esteve para ser quebrado em duas partes. Não se partiu, nem foi jogado ao rio. Ficou. Decerto num coração ferido e cheio.

O amor.

Ainda existe.

Marco Rebelo disse...

exacto :)

lamia disse...

No coração de alguns, Francesca. Apenas.

lamia disse...

Olá, Marco meteoro.

Moura ao Luar disse...

Umbeijo para ti, numa concha de sopa feita para colher o amor

João Vasco disse...

Será o amor como o menino de sua mãe "jaz morto e apodrece"?
bj

~pi disse...

que mais será o amor além de todos os envelopes e sentidos...?

lamia disse...

Moura, não sei quem és, mas obrigada pelo beijo e pelo comentário inspirado. :)

lamia disse...

Jão Vasco,
"No plaino abandonado / que a morna brisa aquece", talvez, que o amor também é soldado.
Obrigada pela visita.

lamia disse...

~pi,

uma morada certa, por vezes às escuras.

...e, para ti, um sorriso.

Miss Alcor disse...

Que lindo!
Adorei "o amor devia ser uma panela sem fundo, servida às conchas..." Tão lindo!

Ruela disse...

:)
gostei muito do teu blogue!

lamia disse...

Miss Alcor de luva branca, esfuziante, obrigada pela visita e comentário.

lamia disse...

Ruela, contenta-me que tenhas gostado. Espero que regresses. *

lampâda mervelha disse...

Amor já não deveria nada, enquanto o dilaceram em arenas de vidas.

Amor, funesto nome que se tinge nos corações. Maldito pária que por vezes és por sentir.

lamia disse...

Lâmpada, o amor é uma lua e, como tal, tem o seu lado escuro e teima em mostrá-lo. Mas nem sempre. :D

nana disse...

e o que não se espera,
já não se espera,
esperando sempre
sei lá o quê.


...


abraço-te, contigo (re)caída, na dor.

até que.

..


@-,-'-

lamia disse...

nana,

Quando já não se espera, algo surge, sempre.

Entretanto, desespera-se no alcance do nada.

...


O abraço prolongou-se mais um momento. Obrigada.


..


-'-,-'-@

Gasolina disse...

Apeteceu-me reler-te nesta declaração amarga-doce. Achei-a mais sumarenta do que da 1ªvez lida.

Um beijo

lamia disse...

Gasolina,

Sumarenta como o interior de um cacto... cuja pele vesti ao contrário.

Uma boa semana.

...e, mais uma vez, obrigada.

(tem-me apetecido silêncios em orquestra, infelizmente)

Eduarda disse...

É mesmo...o amor é felino e faz o que quer!

Será que amamos o amor, mais que o objecto amado?

Belíssimo blogue o teu!!

With perfect love and perfect trust, belessed be!!

lamia disse...

Obrigada, Eduarda.

Eu acho que amamos a sensação, por vezes até ilusória, mais do que o amor ou do que o objecto amado.